O Segredo de Luísa

” Bela, criativa e indomável, querida por todos, apesar de um tanto autoritária e teimosa. Luísa foi uma aluna desinteressada no curso fundamental e no ensino médio. Seus repentes de brilhantismo, contudo, faziam com que fosse aprovada, mas também lhe valiam a reputação de pedante e suscitavam desconsolados suspiros em Vovó Mestra, que lançava sempre o bordão em reuniões de família: “Essa menina não aproveita a inteligência que Deus lhe deu. Não sei o que Ele pode achar do desperdício de sua bênção…”

O fato é que o estudo nunca atraíra Luísa. Seu motivo para ir à escola era a possibilidade de encontrar amigos, ouvir coisas diferentes, aprender com os colegas.

Os conhecimentos transmitidos em aula repercutiam pouco em sua vivacidade. Quase nunca aquilo que o professor ensinava coincidia com o que queria aprender ou precisava aprender naquele momento da sua vida. A imensa curiosidade não satisfeita nos bancos de escola lançava-a na busca ansiosa de conhecimentos em outros lugares, com outras pessoas ou em fontes que ela mesma garimpava. Adorava aprender por meio de conversas com pessoas pelas quais sentia respeito e simpatia – sentimentos importantes para Luísa. Não sabia por quê, mas não conseguia assimilar o que diziam pessoas pelas quais não sentia nenhum vínculo afetivo, por mais brilhantes que fossem. Era assim também com amigos conhecidos. Tentava combater esse critério de seleção, pois achava que poderia estar perdendo coisa importante, mas não conseguia. Apaixonava-se quando o conhecimento vinha temperado pela experiência do interlocutor.

Conseguia, assim, assimilar a essência da comunicação, que, não raro, alimentava nela reflexões. Então, ela se colocava no lugar do outro e buscava reproduzir as situações, como se fosse a personagem central. 

Luísa era atraída pelo novo, pelo inusitado. Observadora perspicaz, sabia ver coisas onde ninguém nada notava, sempre por um ângulo otimista. Tinha prazer em se diferenciar das outras meninas, como se fosse pecado ser igual. Sua forma de se vestir, seu vocabulário, a vontade de desvendar novos caminhos colocavam-na fora dos padrões de comportamento no seu meio. Mas nem sempre era compreendida ou aceita num ambiento cultural em que o imprevisível é encarado, quase sempre, como algo carregado de ameaça. “

Fernando Dolabela


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